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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Fã de filosofia, jovem de Ribeirão Preto tira mil na redação do Enem ao citar Sartre para debater internet


João Augusto Aleixo tirou nota 1000 na redação do Enem em Ribeirão Preto, SP — Foto: João Augusto Aleixo/ Arquivo pessoal
João Augusto Aleixo tirou nota 1000
na redação do Enem em
 Ribeirão Preto, SP
Foto: João Augusto Aleixo/
Arquivo pessoal
Obras de filósofos como Jean-Paul Sartre (1905-1980) são presença garantida na estante de João Augusto Aleixo, de 19 anos, que encara a leitura como algo divertido, inclusive em meio à rotina atribulada de estudos.
Mas o que parecia entretenimento para o estudante nascido em Bauru (SP), que vive em Ribeirão Preto (SP), acabou fazendo diferença no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): com menção às ideias do existencialista francês, a redação dele foi uma das 55 de todo o país a tirar nota 1000 na prova.
O resultado no Enem deve ajudar Aleixo, que busca uma vaga em medicina na Universidade Federal do Paraná. Nesta terça-feira (22), milhares de estudantes como ele poderão usar a pontuação no exame para se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2019.
O jovem realizou a prova em Pederneiras (SP) e na redação destacou a relação entre liberdade e responsabilidade social defendida pelo francês na obra "O existencialismo é um humanismo” para discutir o tema "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet".
"É preciso ter responsabilidade com essa liberdade, e essa liberdade não está sendo exercida pelas mídias sociais e pelas empresas que estabelecem os algoritmos", diz.
Na região, a estudante de Franca (SP), Aimée Utuni, de 17 anos, também se destacou no grupo das melhores redações do país.

João Augusto Aleixo tirou nota 1000 na redação do Enem em Ribeirão Preto — Foto: João Augusto Aleixo/ Arquivo pessoal
João Augusto Aleixo
 tirou nota 1000 na redação
 do Enem em Ribeirão Preto
Foto: João Augusto Aleixo
 Arquivo pessoal

LEITURA E PRÁTICA
Para tirar nota 1000 na redação do Enem, o estudante afirma que contou com bem mais do que o cursinho pré-vestibular particular que frequenta na cidade.
Além das aulas, Aleixo confirma que faz um cursinho de redação, com o qual preenche outras 12 horas diárias de estudos. Entre uma matéria e outra, o jovem diz incorporar tanto as leituras de obras exigidas nos vestibulares quanto as voltadas para a filosofia, área pela qual tem grande interesse.
"Sempre gostei bastante de filosofia, mas o curso de redação me aproximou bastante dessa realidade."
Ele estima ter lido em média dois livros por mês antes dos exames, entre os quais obras de escritores consagrados como Albert Camus (1913-1960) - “O Primeiro Homem” -, Michel Foucault (1926-1984) - "História da loucura" -, além de Sartre.
"Leio como se fosse uma distração e não encaro como um estudo, por mais que eu tenha usado uma leitura que fiz no meu tempo livre."
O aprendizado que obteve com o hábito da leitura incentivado pelos pais desde pequeno - associado à produção semanal de três redações antes da prova - acabou sendo um aliado na hora de testar a capacidade de expor suas ideias no papel.
Enem 2018 - Prova Amarela - Redação — Foto: Reprodução
Prova Amarela - Foto: Reprodução

 A redação foi a primeira coisa que ele cumpriu na prova. "Parti de uma perspectiva mais filosófica, mas atrelei a um fato da atualidade. (...) É uma abordagem diferente em relação à liberdade, ele fala muito de uma sensação de angústia em relação à liberdade", afirma.
Também à espera dos resultados da segunda fase da Unicamp e da Unesp, Aleixo confirma que precisou deixar um pouco de lado as redes sociais para se dedicar mais aos livros. Para ele, ler é essencial e deve ser exercitado, sobretudo para quem escreve.
"Acho que é normal esse tipo de livro causar dificuldade em relação à linguagem. Eu mesmo não entendo algumas partes e tenho que voltar. É persistência. Quanto mais você lê, melhor você fica", afirma.