Na noite desta sexta-feira (25), o
presidente da Vale, Fabio Schvartsman, declarou que laudos atestavam um risco
baixo de desabamento e que, dessa vez, a tragédia humana será maior. Há três
anos e dois meses, em Mariana, 19 pessoas morreram.
Menos de 200 quilômetros e exatos
1177 dias separam duas tragédias: a do córrego do Feijão, distrito de
Brumadinho, e a de Bento Rodrigues, no município de Mariana.
5 de novembro de 2015, era uma
quinta-feira. A barragem de Fundão rompeu. A lama levou tudo o que tinha pelo
caminho. O povoado de Bento Rodrigues sumiu do mapa. Paracatu de Baixo e
Gesteira também estavam na rota da destruição. Mais de 50 milhões de metros
cúbicos de rejeitos de minério de ferro vazaram, atingiram o Rio Doce e
chegaram ao mar. 19 pessoas morreram.
Tanto tempo depois do acidente, os
distritos devastados ainda estão debaixo de lama. Os moradores continuam em
casas alugadas pela mineradora Samarco. 22 pessoas foram denunciadas, sendo que
21 por homicídio. O processo está na Justiça Federal.
A construção de um novo distrito
para substituir o Bento Rodrigues estava prevista para terminar em 2019, mas
foi adiada para 2020. Processos e acordos das vítimas se acumulam até hoje.
A Samarco parou de operar logo
depois do desastre. As controladoras da empresa são a BHP Billiton, de capital
inglês e australiano, e a brasileira Vale, empresa que no ano de 1942, no
governo de Getúlio Vargas, foi criada e batizada de Vale do Rio Doce. Uma
companhia de economia mista, sendo o Governo Federal o principal acionista. A
privatização veio em maio de 1997, durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso, num leilão na Bolsa de Valores do Rio.
A Vale é hoje a terceira maior
empresa em valor de mercado do país; atrás apenas da Petrobras e do Itaú Unibanco.
Está avaliada em R$ 289,8 bilhões e é uma das maiores mineradoras do mundo.
Está presente em 30 países.
As ações da Vale passavam por uma
ótima fase na Bolsa de Valores de São Paulo. Do início do ano até esta
quinta-feira (24), os papéis acumularam alta de 10%. Os efeitos do rompimento
da barragem em Minas Gerais só serão sentidos no no mercado brasileiro na
segunda-feira (28). Hoje é feriado em São Paulo e a Bolsa não abriu.
Na Bolsa de Valores de Nova York,
os efeitos foram imediatos. Os papéis da empresa abriram o dia com tendência de
alta, mas, assim que a notícia da tragédia circulou, houve um forte recuo:
queda de 9%. Os papéis da Vale fecharam o dia com redução de 8%, valendo R$
13,66.
Por volta das 20h30, o presidente
da Vale, Fabio Schvartsman, concedeu uma entrevista coletiva. Ele disse que a
prioridade no momento é o atendimento às vítimas. "A maioria dos atingidos
são nossos próprios funcionários. Nós tínhamos, no momento do acidente,
aproximadamente 300 funcionários, próprios e de terceiros, trabalhando naquele
local. Nós não sabemos quantos foram acidentados pelo produto vazado da
barragem. Os funcionários da Vale tiveram seu restaurante soterrado; isso
aconteceu na hora do almoço. E o prédio administrativo também", relatou.
O presidente da Vale afirmou que
tem laudos atestando que o risco de desabamento era baixo: "Agora, no dia
10 de janeiro, foi feita a última leitura dos monitores, tudo normal. O último
relatório que nos foi enviado de auditoria externa foi no dia 26 de setembro de
2018, que atestava a perfeita estabilidade do sistema. Surpresa porque nós
temos atestados de auditorias externas, feitas por empresas especializadas -
inclusive alemãs -, que atestam a estabilidade dessa mina".
Fabio Schvartsman afirmou que,
desta vez, o dano ambiental será menor se comparado à tragédia de Mariana, mas
a perda de vidas não: "Dessa vez é uma tragédia humana, porque nós estamos
falando de uma quantidade provável grande de vítimas. Nós não sabemos quantas
são, mas sabemos que será um número grande. E, possivelmente, o dano ambiental
dessa vez será menor. Como eu disse, como a barragem era uma barragem nativa, o
material dentro dela já era razoavelmente seco e, consequentemente, ele não tem
esse poder de se deslocar por longas regiões. Então, a parte ambiental deve ser
muito menos e a tragédia humana, terrível".