Foto: Ana Néres |
PROJETO ANO POÉTICO
“Todo mundo canta a sua terra, eu
vou cantar a minha também...”. Assim se expressava João do Vale,o poeta que
mais distante levou o nome de nossa região. Podemos, também, ressaltar o mito
de que quem bebe da água do Mearim, decifra o mundo em linhas poéticas e,
ainda, em Fernando Pessoa, identificarmo-nos no poema:
“DA MINHA ALDEIA vejo quando da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem
dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.”
(Alberto Caeiro, em “O Guardador de Rebanhos”)
Partindo da “nossa aldeia poética”,
denominada mitologicamente de Aldeia Poética do Mearim, eclodimos em poesia,
porque o mundo poeta não cabe em espaço físico nem geográfico, ele se envolve
em seu mundo, enquanto cresce na “ideia de mundo”, vindo a contagiar outros.
O Projeto ANO POÉTICO é poesia
escorrendo, vazando, enchente por entre as serras, que leva o poeta e a poesia
do vale do Mearim a fertilizar sementes, expor frutos dentro e fora dos muros
sociais e geográfico que nos prendem nas casas de nossos ofícios e os empurram
para a marginalidade das periferias dos olhares, quando numa pequena fagulha de
pensamento achamos não poder fazer Literatura, esse produto tão cruelmente por
vezes afastado das aldeias dos povos e guardado nas vitrines do poder ser e
ter. ANO POÉTICO tem por objetivo reunir, agregar todos os poetas e escritores
atuantes na Região do Mearim, e convidados, em torno de um só projeto,
proporcionando interação entre si e também motivação para que a Literatura da
região desperte, podendo assim vir a gerar mais publicações e chamar a atenção
do Estado para a leitura, destaque e investimento nos autores e obras. Prevê a
escrita, a produção e o lançamento de 12 exemplares de antologias constituídas
por poemas, crônicas, memórias e contos, compreendendo um título para cada mês
do ano, sendo nomeadas com os nomes dos meses podendo ter subtítulos.
O tempo de produção, bem como a
ordem de concepção de cada livro é inespecífico, sendo de acordo com a
inspiração e os autores participantes do projeto.
Ana
Néres Pessoa Lima Góis
Coordenadora do projeto
Foto: Ana Néres |
DO MEARIM PARA O MUNDO
“... de Aldeia Poética do Mearim, eclodimos
em poesia, porque o mundo poeta não cabe em espaço físico nem geográfico, ele
se envolve em seu mundo enquanto cresce na ‘ideia de mundo’ vindo a contagiar outros.” Ana Neres Pessoa Lima Góis
PROJETO
ANO POÉTICO
Um pingo de cor das tantas cores de fevereiro; de um toque tom musical,
seja de uma guitarra ou sopro de um pife. A palavra sim ou não, dependendo da
ocasião, que pode ser bandeira ou letra de uma canção; ou vidas, caminhos, paz
e guerra, mas também plantação de margaridas para o jardim que pode ser de um
coração... Um livro!!! Um livro para se abrir presente de olhares em leituras
dos passos, romances, do humano viver cardo cordel nordestino dos cantares
violeiros, ou Tambores de São Luís, de Josué Montello, ou contemplação, pranto
“fonte do Ribeirão”. Dos ventos, ímãs Rosa dos Ventos que nos inclina ao Norte,
convite ao navegar, descer, remar canoa, passar por povoações, cidades medidas
do curso do rio em margens de verdes pindovais. Pindovais que morrem com o
pranto das palmeiras que dão na região do médio-baixo-Mearim as palmas –
bandeira de sua soberania. Tudo porque o coco capital é de ouro. Não! Não quer
conviver com o coco dança dos pobres. E decreta: “Exterminem-se os palmeirais”,
pois a terra é boa para a produção do pasto de engorda de animais. Alega-se que
não há mais razão do se viver aldeia, do olhar-se a cada manhã o eu, tu, nós a
se saudar bons-dias. O coco-ouro tem outro tom de poesia que engloba. Poema
máquina de estrugir feroz. Que me cala a voz. Passado um momento, no entanto,
vibro, porque sou capaz de me imaginar na trincheira a manejar um antigo
canhão, não!, bacamarte deixado por um dos guerreiros balaios de um sonho
abolicionista-republicano. Dá de disparar?! Não! Antigo! Mas, por ser antigo, tomo-o com a
certeza que a poesia tece a arte-consciência a inventar caminhos com a tão
sonhada, amada, cidade aldeia da liberdade.
Raimundo
Carneiro Corrêa
Coleta de Dados e organização:
JOÃO ISRAEL DA SILVA AZEVEDO
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