Uma pesquisa
interna encomendada pelo Ministério da Educação (MEC)
no ano passado apontou que a maioria dos brasileiros é favorável à inclusão de
questões sobre gênero e sexualidade no currículo escolar. Nunca divulgado
publicamente, o levantamento foi obtido com exclusividade pela TV Globo por
meio da Lei de Acesso à Informação.
Segundo a
pesquisa, 55,8% responderam "sim" se a "abordagem sobre as
questões de gênero e sexualidade deve fazer parte do currículo escolar".
Outros 38,2% foram contra a medida, e 6% dos entrevistados não souberam
responder.
Os
entrevistados também foram questionados sobre quais são os principais problemas
nas escolas públicas .
A pesquisa foi
feita pelo Instituto GPP e custou ao MEC R$ 216.240,00. O instituto já realizou
uma série de pesquisas para empresas, públicas e privadas, bem como para
políticos.
Procurado, o
MEC confirmou a compra da pesquisa pela gestão anterior, mas não esclareceu os
motivos de tê-la contratado e nem do porquê de nunca ter tornado públicos os
seus resultados. O governo não comentou os resultados do levantamento.
A quantidade de
pessoas favoráveis a essa abordagem aumenta na região Sul (63,1%) e Centro-Oeste
e Norte (60,4%). Na região Sudeste, 52,5% concordaram com a afirmação. A
afirmação ganha respaldo também entre a maioria dos católicos (57,5%), mas não
entre evangélicos, grupo em que apenas 46,7% defendeu a inclusão do tema no
currículo.
Os dados
contrastam com a visão da atual gestão do Ministério da Educação. O ministro
Ricardo Vélez Rodríguez já fez críticas públicas à discussão de gênero no currículo
e chegou a afirmar que "quem define gênero é a natureza".
O termo "ideologia
de gênero", um conjunto de ideias que defende que cabe a cada pessoa se
definir homem ou mulher e é frequentemente usado por grupos
religiosos para criticar a discussão sobre gênero no ambiente escolar, também
foi alvo da pesquisa. A maioria dos entrevistados (62,6%) não soube definir o
que a expressão significa. Dentre os que sabiam (37,4%), a maioria (52,3%)
disse ser contra o tema estar no currículo escolar, ante 45% de favoráveis.
Pesquisa contratada pelo MEC em 2018
também ouviu a opinião da população sobre
problemas de
preconceito racial e
homofóbico nas escolas — Foto: Rodrigo Cunha/G1
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RACISMO E
COTAS
Sobre o
preconceito contra os negros nas escolas, a maioria (77,2%) acha que ele existe
bastante e é muito grave. Este índice é maior entre os mais pobres (84,0%) e
entre quem mora na região Nordeste (85,4%). A maioria (77,2%) acha que este é
um tema que deveria ser incluído no currículo escolar.
Também ganhou
destaque no levantamento o tema das cotas raciais – neste caso, a população se
dividiu. A maioria da população (62,6%) é favorável à existência de cotas para
o ingresso nas universidades, mas as pessoas se dividem em relação ao tipo de
cota.
Os que são
favoráveis ao fim da existência de qualquer tipo de cota representam 32,7%.
Este índice é maior entre os mais velhos (37,2%) e os de renda familiar mais
alta (38,5%).
Quase um terço
dos entrevistados (32,7%) são favoráveis à existência somente de cotas sociais,
destinadas aos alunos mais pobres e estudantes de escolas públicas,
independentemente da cor. Este índice é maior entre os mais jovens (36,1% entre
o grupo de 16 a 24 anos e 38,6% entre os que têm de 25 a 34 anos) e entre os de
renda familiar mais alta.
Já 29,9% dos
entrevistados disseram ser favoráveis à existência de dois tipos de cotas, as
destinadas aos alunos mais pobres, estudantes de escolas públicas e as cotas
raciais, destinadas aos alunos negros. Nesse caso, o índice continua mais alto
entre os mais jovens (36,9% no grupo de pessoas de 16 a 24 anos, mas cresce
também entre as pessoas com a renda familiar mais baixa (38,3%).
SOBRE A
PESQUISA
O levantamento
feito pela consultoria contratada pelo MEC ouviu 2.004 pessoas de 11 estados e
do Distrito Federal, representando todas as regiões do país. O tamanho da
amostragem é semelhante ao de pesquisas eleitorais nacionais, como a que é
feita pelo Ibope, seguindo critérios científicos.
As entrevistas
foram conduzidas em janeiro de 2018, mas apenas para uso interno do ministério.
Desde então, não foram feitos outros levantamentos do tipo.