Há um pouco mais de leitores no Brasil. Se em
2011 eles representavam 50% da população, em 2015 eles são 56%. Mas ainda é
pouco. O índice de leitura, apesar de ligeira melhora, indica que o brasileiro
lê apenas 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88
lidos por vontade própria. Do total de livros lidos, 2,43 foram terminados e
2,53 lidos em partes. A média anterior era de 4 livros lidos por ano. Os dados
foram revelados na tarde desta quarta-feira, 18, e integram a quarta edição da
Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.
Realizada pelo Ibope por encomenda do
Instituto Pró-Livro, entidade mantida pelo Sindicato Nacional dos Editores de
Livros (Snel), Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Associação Brasileira de
Editores de Livros Escolares (Abrelivros), a pesquisa ouviu 5.012 pessoas,
alfabetizadas ou não, mesma amostra da pesquisa passada. Isso representa,
segundo o Ibope, 93% da população brasileira.
Para a pesquisa, é leitor quem leu, inteiro
ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses. Já o não leitor é aquele
que declarou não ter lido nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha
lido nos últimos 12 meses.
A Bíblia é o livro mais lido, em qualquer nível
de escolaridade. O livro religioso, aliás, aparece em todas as listas: últimos
livros lidos, livros mais marcantes. 74% da população não comprou nenhum livro
nos últimos três meses. Entre os que compraram livros em geral por vontade
própria, 16% preferiram o impresso e 1% o e-book. Um dado alarmante: 30% dos
entrevistados nunca comprou um livro.
Para 67% da população, não houve uma pessoa
que incentivasse a leitura em sua trajetória, mas dos 33% que tiveram alguma
influência, a mãe, ou representante do sexo feminino, foi a principal
responsável (11%), seguida pelo professor (7%).
As mulheres continuam lendo mais: 59% são
leitoras. Entre os homens, 52% são leitores. Aumentou o número de leitores na
faixa etária entre 18 e 24 anos – de 53% em 2011 para 67% em 2015. A pesquisa
não aponta os motivos, mas Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato
Nacional de Editores, disse ao Estado que o boom da literatura para este
público pode ter ajudado no aumento do índice – mais do que uma ação para
manter o aluno que sai da escola interessado na leitura.
Entre as principais motivações para ler um
livro, entre os que se consideram leitores, estão gosto (25%), atualização
cultural ou atualização (19%), distração (15%), motivos religiosos (11%),
crescimento pessoal (10%), exigência escolar (7%), atualização profissional ou
exigência do trabalho (7%), não sabe ou não respondeu (5%), outros (1%).
Adolescentes entre 11 e 13 anos são os que mais leem por gosto (42%), seguidos
por crianças de 5 a 10 anos (40%).
Os fatores que mais influenciam na escolha de
um livro estão tema ou assunto (30%), autor (12%), dicas de outras pessoas
(11%), título do livro (11%), capa (11%), dicas de professores (7%), críticas/
resenhas (5%), publicidade (2%), editora (2%), redes sociais (2%), não sabe/não
respondeu (8%), outro (1%). O item O “tema ou assunto” influencia mais a escolha
dos adultos e daqueles com escolaridade mais alta, atingindo 45% das menções
entre os que têm ensino superior. Já o público entre 5 e 13 anos escolhe pela
capa. Dicas de professores funcionam melhor que todas as outras opções para
crianças entre 5 e 10 anos. E blogs respondem por menos de 1%.
Lê-se mais em casa (81%), depois na sala de
aula (25%), biblioteca (19%), trabalho (15%), transporte (11%), consultório e
salão de beleza (8%) e em outros lugares menos expressivos. E lê-se mais livros
digitais em cyber cafés e lan houses (42%) e no transporte (25%).
Aos não leitores, foi perguntado quais foram
as razões para eles não terem lido nenhum livro inteiro ou em partes nos três
meses anteriores à pesquisa. As respostas: falta de tempo (32%), não gosta de ler
(28%), não tem paciência para ler (13%), prefere outras atividades (10%),
dificuldades para ler (9%), sente-se muito cansado para ler (4%), não há
bibliotecas por perto (2%), acha o preço de livro caro (2%), tem dinheiro para
comprar (2%), não tem local onde comprar onde mora (1%), não tem um lugar
apropriado para ler (1%), não tem acesso permanente à internet (1%), não sabe
ler (20%), não sabe/não respondeu (1%).
A leitura ficou em 10º lugar quando o assunto
é o que gosta de fazer no tempo livre. Perdeu para assistir televisão (73%),
que, vale dizer, perdeu importância quando olhamos os outros anos da pesquisa:
2007 (77%) e 2011 (85%). Em segundo lugar, a preferência é por ouvir música
(60%). Depois aparecem usar a internet (47%), reunir-se com amigos ou família
ou sair com amigos (45%), assistir vídeos ou filmes em casa (44%), usar
WhatsApp (43%), escrever (40%), usar Facebook, Twitter ou Instagram (35%), ler
jornais, revistas ou noticias (24%), ler livros em papel ou livros digitais
(24%) – mesmo índice de praticar esporte. Perdem para a leitura de um livro:
desenhar, pintar, fazer artesanato ou trabalhos manuais (15%), ir a bares,
restaurantes ou shows (14%), jogar games ou videogames (12%), ir ao cinema,
teatro, concertos, museus ou exposições (6%), não fazer nada, descansar ou
dormir (15%).
A principal forma de acesso ao livro é a
compra em livraria física ou internet (43%). Depois aparecem presenteados
(23%), emprestados de amigos e familiares (21%), emprestados de bibliotecas de
escolas (18%), distribuídos pelo governo ou pelas escolas (9%), baixados da
internet (9%), emprestados por bibliotecas públicas ou comunitárias (7%),
emprestados em outros locais (5%), fotocopiados, xerocados ou digitalizados
(5%), não sabe/não respondeu (7%).
A livraria física é o local preferido dos
entrevistados para comprar livros (44%), seguida por bancas de jornal e revista
(19%), livrarias online (15%), igrejas e outros espaços religiosos (9%), sebos
(8%), escola (7%), supermercados ou lojas de departamentos (7%), bienais ou
feiras de livros (6%), na rua, com vendedores ambulantes (5%), outros sites da
internet (4%), em casa ou no local de trabalho, com vendedores “porta a porta”
(3%), outros locais (6%) e não sabe/não respondeu (7%). O preço é o que define
o local da compra para 42% dos entrevistados. Na pesquisa anterior, isso valia
para 49%.
A pesquisa perguntou a professores qual tinha
sido o último livro que leram e 50% respondeu nenhum e 22%, a Bíblia. Outros
títulos citados: Esperança, O Monge e o Executivo, Amor nos tempos do cólera,
Bom dia Espírito Santo, Livro dos sonhos, Menino brilhante, O símbolo perdido,
Nosso lar, Nunca desista dos seus sonhos e Fisiologia do exercício. Entre os 7
autores mais lembrados, Augusto Cury, Chico Xavier, Gabriel Garcia Márquez,
Paulo Freire, Benny Hinn, Ernest W. Maglischo e Içami Tiba.
Quando extrapolamos para a amostra total, os
títulos mais citados como os últimos lidos ou que estão sendo lidos foram
Bíblia, Diário de um banana, Casamento Blindado, A Culpa é das Estrelas, Cinquenta
Tons de Cinza, Ágape, Esperança, O Monge e o Executivo, Ninguém é de ninguém,
Cidades de Papel, O Código da Inteligência, Livro de Culinária, Livro dos
Espíritos, A Maldição do Titã, A Menina que Roubava Livros, Muito mais que
cinco minutos, Philia e A Única Esperança.
Quando a questão é sobre os livros mais
marcantes, os religiosos continuam ali e a Bíblia segue como referência, mas a
lista fica um pouco diferente, com alguns clássicos e infantojuvenis: Bíblia, A
Culpa é das Estrelas, A Cabana, O Pequeno Príncipe, Cinquenta Tons de Cinza,
Diário de um banana, Turma da Mônica, Violetas na Janela, O Sítio do Pica-pau
Amarelo, Crepúsculo, Ágape, Dom Casmurro, O Alquimista, Harry Potter, Meu pé de
laranja lima, Casamento Blindado e Vidas Secas.
Entre os escritores preferidos dos
brasileiros estão Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho, Maurício de
Sousa, Augusto Cury, Zibia Gasparetto, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade,
Cecília Meireles, Chico Xavier, John Green, Ada Pellegrini, Vinícius de Moraes,
José de Alencar e Padre Marcelo Rossi.
Maria Fernanda Rodrigues | O ESTADÃO
18 Maio 2016 | 17h06